Aqui vou colocar os poemas que escolhi no âmbito de Lingua Portuguesa.
Lágrima de Preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
_______________
Negra
A negra para tudo
a negra para todos
a para capinar plantar
regar
colher carregar empilhar no paiol
ensacar
lavar passar remendar costurar cozinhar
rachar lenha
Limpar a bunda dos nhozinhos
trepar.
A negra para tudo
nada que não seja tudo tudo tudo
até ao minuto de
(único trabalho para seu proveito exclusivo)
morrer.
Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Subscrever:
Mensagens (Atom)